Com o coração nas mãosAs doenças cardíacas são a principal causa demorte no país, com 300.000 vítimas fatais a cada ano. Está ao alcance de todos evitá-las Principal causa de óbitos no país, as doenças cardiovasculares matam 300.000 brasileiros por ano, o equivalente à população de uma cidade como Florianópolis, capital de Santa Catarina. Desses males, o mais comum é o infarto. Ele sobrevém quando há obstrução de um ou mais vasos sanguíneos e o coração deixa de ser suficientemente irrigado em certas áreas. Sem o oxigênio transportado pelo sangue, os tecidos atingidos necrosam e tornam-se inativos. Dependendo da extensão do estrago, a função cardíaca pode ser inteiramente comprometida, levando à morte do paciente. O infarto é repentino e costuma manifestar-se sob a forma de uma dor aguda no peito e nas costas, acompanhada de formigamento nos braços, suadouro e respiração ofegante. Mas está longe de ser uma ocorrência imprevista. Por trás de um ataque, há invariavelmente uma longa história de descaso com os fatores que mais ameaçam o coração – a hipertensão, o colesterol alto, o diabetes e o tabagismo. Todos podem ser mantidos sob controle. Nada é mais pernicioso à saúde do coração que a hipertensão – uma pressão arterial acima dos padrões normais. Medi-la significa determinar o impacto do fluxo de sangue sobre as artérias. A pressão é máxima quando o músculo cardíaco se contrai e bombeia sangue para o resto do organismo. E mínima entre um batimento e outro, no momento em que o coração relaxa. A pressão ideal é uma máxima de 12 e uma mínima de 8 (os números referem-se ao marcador de mililitros de mercúrio do aparelho que o médico coloca no seu braço numa consulta). Quando ela alcança 14 por 9 ou mais, o diagnóstico é de hipertensão. Ou seja, o sangue está circulando com uma velocidade e uma força além das que seriam recomendáveis. Por que isso causa danos? Imagine uma estrada em que veículos pesados trafegam em velocidade acima da permitida. É natural que o asfalto não resista. O sinal mais visível desse desgaste são os buracos que surgem na pista. Pois bem, o mesmo acontece com as artérias de um hipertenso. Submetidas a impacto muito grande, as paredes arteriais sofrem uma erosão que resulta na formação de sulcos. Está aberto, dessa maneira, o caminho para o depósito de gorduras que causam infarto. A hipertensão também pode arrebentar uma artéria – a isso se dá o nome de derrame. Os hipertensos brasileiros somam cerca de 18 milhões de pessoas. Um terço não sabe que está doente. Outro terço sabe, mas não se trata. Mais um dado dramático: no Brasil, a medição da pressão arterial é adotada como rotina em apenas 30% das consultas. Ainda assim, de cada dez aparelhos em uso, seis estão descalibrados – o que induz a erro de diagnóstico. A hipertensão tem um forte componente hereditário. A herança genética, no entanto, pode vir a não se manifestar caso sejam adotados hábitos saudáveis. Um deles é não exagerar no consumo de sal. Poucos povos adoram tanto um saleiro quanto o brasileiro. O consumo nacional per capita chega a absurdos 12 gramas diários. De acordo com o estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), essa quantidade não deveria ultrapassar os 2 gramas. Sal em excesso retém líquido e, conseqüentemente, aumenta o volume de sangue nas artérias. Com isso, a pressão sobe. Domar o stress também é vital – a tensão e a ansiedade intensificam a produção de substâncias que danificam as artérias.
O colesterol é um dos compostos mais importantes para o bom funcionamento do organismo. Trata-se de uma lipoproteína que serve de matéria-prima na produção de hormônios e de vitamina D. Seu excesso no sangue, contudo, representa um tremendo perigo. Como o organismo não dá conta de processar grandes quantidades do colesterol ruim, o LDL, o excedente circula pelo sangue até encontrar um buraco em alguma artéria – onde se acumula e pode causar obstrução. Dietas ricas em gorduras são um prato cheio para o aumento dos níveis de LDL. A substância é encontrada sobretudo em alimentos de origem animal, como carne vermelha, leite e derivados, ovos etc. Falou-se em colesterol ruim porque existe um colesterol bom, o HDL, que funciona como uma espécie de desentupidor. Ele recolhe as gorduras grudadas nas paredes arteriais e as despeja no fígado, onde são processadas e eliminadas. Ao lado de uma dieta balanceada, a prática regular de exercícios físicos tende a baixar as concentrações de LDL e a aumentar as de HDL. Recentemente, foram descobertos dois aliados de peso na luta contra o colesterol ruim. O primeiro deles é o ômega 3, um ácido graxo que vem sendo adicionado a leites e margarinas. O outro é uma substância chamada atorvastatina cálcica, que, ao reduzir em até 30% os níveis de colesterol, se transformou numa das vedetes da indústria farmacêutica e só deve ser tomado com indicação médica. A inatividade física está associada a 35% das doenças cardiovasculares fatais. Concorre, por exemplo, para o desenvolvimento da obesidade e do diabetes. Quase 9 milhões de brasileiros, entre 30 e 69 anos, são diabéticos. Metade deles não sabe que está doente. O diabetes caracteriza-se pela incapacidade (total ou parcial) de o pâncreas produzir insulina, o hormônio que serve de chave para a glicose, principal fonte de energia do organismo, entrar nas células. O excesso de glicose no sangue escava a parede das artérias e facilita o depósito de gordura nos vasos sanguíneos, tal como se verifica na pressão alta. Muita gente pensa que problemas cardíacos são quase que exclusividade masculina. É um equívoco. Com a emancipação feminina, aumentou exponencialmente o número de mulheres com distúrbios cardíacos. Na década de 60, para cada vítima feminina de doenças cardiovasculares havia nove masculinas. Hoje, a proporção é de uma para três. Depois da menopausa, o quadro torna-se ainda mais sombrio. Isso porque elas perdem a proteção do estrógeno, o hormônio sexual feminino por excelência, cuja produção cai com o climatério. Vilão no câncer, o estrógeno ajuda a impedir o acúmulo de colesterol ruim nas artérias. Por isso, é importante que as mulheres também passem a cuidar da saúde do coração desde cedo. Ao mesmo tempo que enfatiza a prevenção, a medicina avança no tratamento das pessoas que sofrem um ataque cardíaco. Um infartado que consegue ser atendido em um pronto-socorro até seis horas depois da crise tem 95% de chance de sobreviver. No campo das cirurgias de desobstrução de artérias e implantação de pontes de safena e mamárias, as conquistas foram enormes nos últimos vinte anos. Na década de 70, de cada dez operados apenas dois continuavam vivos passado um ano da realização da cirurgia. Hoje, esse número situa-se na casa dos 90%. Mas é sempre bom ter em mente o lado negativo de tais estatísticas. O coração é um órgão do formato de uma pêra, tem em média 300 gramas de peso e pulsa 90.000 vezes ao longo de 24 horas. A cada minuto, distribui de 5 a 6 litros de sangue oxigenado por todo o corpo. Com o tempo, é normal que haja um endurecimento das artérias. Completamente dispensável é contribuir para o aceleramento dessa marcha.
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